O quintal
Participando de uma vivência fui convidada a acessar memórias de infância e escolher uma palavra para representá-la. Me vieram vários fragmentos de memórias e para minha grande surpresa, o que ligavam todas essas experiências era a quase onipresença do quintal.
O quintal não era somente o cenário, um lugar em que ocorriam as cenas, mas era um personagem, não um qualquer, mas um dos protagonistas, o grande possibilitador de histórias, aventuras de todo tipo, momentos de repouso e talvez contemplação. Era o elemento central onde tudo era possível.
Poucas árvores mas era um bosque, nem tão grande mas era imenso, nem tão belo mas era incrível. Onde havia vida, movimento, cores, cheiros e sons integrados, quintal e crianças eram todos um só. Onde toda a liberdade da minha primeira infância podia ser expressa e vivida.
O quintal era o mundo. E o mundo era fantástico.
Lembro-me de dizerem que a casa era um casebre, mas isso não me importava. Havia o quintal mágico.
Bom, aos 6 anos mudamos para uma casa onde o quintal era minúsculo e sem vida. Foi a primeira morte, despedida e separação vivida.
Mas agora finalmente desenterrei sua memória. Então o Quintal não está mais morto, mas mais vivo do que nunca.